ATA DA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 30.03.1995.

 


Aos trinta dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão destinada a entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Abílio de Oliveira Reis, de acordo com o Requerimento nº 43/95 (Processo nº 442/95), de autoria do Vereador Fernando Zachia e aprovado pelo Plenário. Compuseram a Mesa: o Vereador Airto Ferronato, Presidente da Casa, o Senhor Abílio de Oliveira Reis, Homenageado, o Deputado Valdir Fraga, Presidente em Exercício da Assembléia Legislativa do Estado, o Senhor Hélio Corbellini, Diretor do Departamento Municipal de Habitação e representante do Senhor Prefeito Municipal, o Senhor Alexandre Moreira, representante do Procurador Geral do Estado, o Senhor Pedro Paulo Zachia, Presidente do Sport Club Internacional, o Senhor Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa, o Desembargador Osvaldo Stefanello, representando a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado. A seguir, o Senhor Presidente manifestou-se sobre a presente homenagem, concedendo a palavra aos Senhores Vereadores. O Vereador Fernando Zachia, em nome das Bancadas do PMDB, PT, PC do B, PPS, PSDB e PPR, discorreu sobre os atributos do homenageado como descobridor de grandes talentos do futebol, congratulando-se, como proponente, com Sua Senhoria. O Vereador Dilamar Machado, em nome da Bancada do PDT, que elogiou o homenageado pela sua grande competência profissional, destacando sua importância para o desenvolvimento do futebol em nosso País e em nosso Estado. O Vereador Jocelin Azambuja, em nome da Bancada do PTB, discorreu sobre a atividade do Senhor Abilio Reis na "garimpagem" de novos craques de futebol, destacando o grande estímulo de Sua Senhoria a uma juventude sadia e competitiva. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, saudou o Senhor Abilio Reis pelo seu trabalho em prol do futebol desenvolvido ao longo de toda a sua vida, rememorando a atividade de Sua Senhoria no treinamento de times desse esporte. O Vereador Luiz Negrinho, em nome da Bancada do PP, rememorando episódios em que manteve contato com o homenageado, destacou a sua grande competência profissional e sua importância para o desenvolvimento do futebol no Rio Grande do Sul e no Brasil. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Deputado Valdir Fraga, que relembrou episódios em que manteve contato com o Senhor Abilio Reis treinando em equipe futebolística juvenil, congratulando-se com Sua Senhoria por sua dedicação à causa do esporte. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Fernando Zachia para efetuar a entrega do Título ao Senhor Abílio Reis, que assim foi realizada, concedendo, logo após, a palavra a Sua Senhoria que agradeceu a presente homenagem, rememorando sua atividade como treinador e preparador físico de equipes de futebol, principalmente o Sport Club Internacional. Durante os trabalhos o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças: do Senhor João Bosco Vaz, do Senhor João Severiano, do Senhor Larri de Farias, do Senhor Sadi Schwerdt, do Senhor Enídio Perondi, do Senhor Antonio Bessil, do Senhor Enio Andrade, do Senhor Antonio Keunecke, este representando o Deputado Paulo Odone. Às dezoito horas, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelos Vereadores Jocelin Azambuja e Fernando Zachia, como secretários "ad hoc". Do que eu, Fernando Zachia, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Damos por abertos os trabalhos desta Sessão Solene, que é destinada à entrega do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Sr. Abílio de Oliveira Reis.

Quero registrar a satisfação de presidir esta Sessão Solene, que tem por iniciativa o Requerimento nº 43/95, do Ver. Fernando Záchia, aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Porto Alegre. A Câmara realiza esta Sessão Solene para homenagear uma figura de expressão do futebol gaúcho. O Sr. Abílio Reis, treinador das categorias juvenil, juniores e infantil, descobriu talentos que se destacaram a nível nacional e internacional.

Ao nosso homenageado, o reconhecimento da Cidade por seu incansável trabalho em prol do desenvolvimento do esporte gaúcho.

Queremos, de imediato, passar a palavra ao Ver. Fernando Záchia, que fala pelas Bancadas do PMDB, PT, PC do B, PPS, PSDB e PPR.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Conselheiros do Internacional, ex-Presidentes beneméritos, Presidente da Fundação Educação e Cultura do Internacional, ex-atletas, ex-companheiros do Grêmio Esportivo Renner e, principalmente, amigos do Abílio Reis. Esta legislatura mudou o Regimento da Casa, e nós, Vereadores, no novo Regimento, limitamos o número de homenageados. Agora se pode homenagear com o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre apenas uma indicação por legislatura. Isso fez com que nós, Vereadores, mudássemos os critérios para que aquelas pessoas agraciadas com o maior título da Cidade fossem, realmente, merecedoras de tal homenagem. E, para satisfação minha, a escolha do Abílio foi votada por unanimidade por esta Casa.

Falar de Abílio Reis, psicólogo de jovens, descobridor de talentos, homem que descobriu jogadores como Flávio Minuano, Alcindo, Sadi, Nilo, Bráulio, Chorinho, Schneider, Escurinho, Carpeggiani, Falcão, Claudiomiro, Sérgio Calocha, Cláudio Duarte, Jair, Batista, Caçapava, Dunga, Taffarel, Wink, Argel, Caíco, entre outros, que descobriu e lançou mais de cem jogadores que foram titulares no Internacional, dentre os quais vinte e cinco jogadores chegaram à Seleção Brasileira... Ora, o trabalho do Abílio, sem dúvida alguma, projetou a nossa Cidade. Jogadores lançados e descobertos pelo Abílio projetaram Porto Alegre em termos nacionais e internacionais.

Abílio, nós também temos que considerar a parte social da tua atividade. Talvez muitos desses jogadores que tu tornaste jogadores profissionais seriam hoje essas crianças de rua. Se não fosse o teu trabalho, o teu empurrão, algumas delas seriam marginais. Muitas dessas crianças, que poderiam estar mendigando, estariam aumentando o cinturão da miséria na Grande Porto Alegre. O Abílio, através do seu trabalho, da sua própria iniciativa, pegava o seu carro e ia, nos fins de semana, naqueles campos de várzea, dos quais poucos existem, à procura de talentos, à procura de novos jogadores. Se essas crianças não tivessem tido a oportunidade com o Abílio, através do Internacional, através do Renner, em 1947, fazendo essa garimpagem, elas não teriam essa atividade profissional. Vejam a importância social também na atividade do Abílio. E a desportiva? Essa ninguém questiona. Todos temos a convicção de que o Abílio é o maior nome, talvez, na área esportiva do Rio Grande. São quarenta anos de atividade. E o Schneider me dizia, antes de começarmos esta homenagem, que não houve jogador, grande ou médio jogador, que passou pelo Estado do Rio Grande do Sul que não tenha passado pelas mãos do Abílio. O Abílio projetou a nossa Cidade: descobriu talentos e ajudou no aspecto social.

Competência e credibilidade - duas palavras extremamente difíceis de serem conjugadas hoje. Competência o Abílio tem - sempre teve - na sua atividade. Credibilidade o Abílio demostrou. Eu tive a honra e a satisfação de, por três anos, ter sido Vice-Presidente de futebol do Internacional. De uma maneira ou de outra, eu trabalhei diretamente ligado ao Abílio. Lá se recebia uma centena de pedidos de pais, padrinhos, tios, para que seus filhos, afilhados, sobrinhos, fizessem teste no Internacional. Como o Internacional tem esse interesse e como é de praxe, nós trazíamos esses meninos de todos os lugares do Estado, e de fora do Estado, para que fizessem os testes. A maioria, Ver. Edi Morelli, era reprovada. Para aqueles meninos terminava ali a ilusão de jogar num grande clube - no Internacional - e voltavam às suas cidades de origem. Como todo pai, todo padrinho, todo tio pensa que seu filho, seu afilhado, seu sobrinho é o melhor jogador de futebol da sua região, de sua cidade, num primeiro momento eles ficavam chateados e pensavam: - "O que houve com meu filho" - afilhado, sobrinho - "que não passou nos testes do Internacional?" - “Foi reprovado." - "Mas quem o treinou?" - "O Abílio Reis." - "Ah, bom, se foi o Abílio, é melhor o guri estudar. Se foi o Abílio, o guri não joga, não serve para o Internacional." Isso o Abílio adquiriu ao longo de seus quarenta anos envolvido em futebol: competência e credibilidade.

Desilusões o Abílio teve, grandes desilusões. Ele trouxe para o Internacional o Renato, que foi para o Grêmio; o Valdo, que foi para o Grêmio; e tentava trazer o Branco, de Bagé, que terminou indo para o Fluminense. Por situações emergenciais momentâneas do clube, o Internacional tinha dificuldades financeiras, dificuldades estruturais, e não podia alojar esses meninos, e eles acabaram não ficando no Internacional, indo brilhar em outros clubes. Mas o Abílio mostrava seu olho clínico e a sua competência; eles não ficaram no Internacional não por culpa do Abílio, mas por culpa nossa, de dirigentes daquela situação por que passava o Internacional naquele momento.

Histórias sobre o Abílio é que não faltam. Quando se fala em Abílio sempre se tem alguma história para comentar. O meu querido amigo Schneider, uma pessoa que eu prezo muito, quando ele era juvenil do Internacional e este jogava uma partida contra o Aymoré - o Schneider nega o fato, mas não nega o episódio -, tomou um "frango", na versão do Abílio, mas não na versão do Schneider; ele teria tomado um "frango" e, no intervalo, o Abílio, brabo, no vestiário apertado, acanhado, com o Aymoré, olhou para o Schneider e disse: - "Schneider, quem é que disse que tu és goleiro?" O Schneider, prontamente, disse: - "O senhor, Sr. Abílio." O Abílio baixou a cabeça e disse: - "Onde é que eu estava com a cabeça quando falei isso?" Isso mostra a característica do Abílio, a sua psicologia, que ele aplicava no futebol, nos jogadores jovens, como com o Sadi, nosso querido ex-Vereador e atual Diretor da Câmara Municipal. O Sadi era um bom avante - me parece que jogava no Bonfim -, um jogador alto, de estatura e, na época, o grande nome do Internacional era o Larri Pinto de Faria, figura lendária, que nos orgulha com a sua presença. O apelido do Sadi, na várzea, era "Larri", espelhado no grande jogador do futebol gaúcho. Chegou o Sadi para treinar no Internacional e o Abílio o colocou para jogar como avante. Dois ou três treinos foram suficientes para que o Abílio, na sua psicologia aplicada, chamasse o "Larri" de então, hoje Sadi, e dissesse:  - "Joga na defesa e muda o nome; joga com o nome de Sadi." Ele terminou jogando no Internacional por dez anos, no Corínthians e na Seleção Brasileira. Mostrava ali o Abílio, também, a sua competência e o seu olho clínico em avaliar um bom jogador.

O Flávio Bicudo, um grande centroavante, jogou no Internacional, no Fluminense, no Corínthians, na Seleção Brasileira e no Porto. O Flávio Bicudo havia sido dispensado do Internacional como lateral esquerdo, e o Abílio, vendo aquilo, reconvocou o Flávio e o botou como centroavante das categorias de bases. É um jogador que deu muitas glórias, inclusive participando. O Artur lembra da grande conquista de 1975, quando o Internacional tornou-se, pela primeira vez, campeão nacional.

Existem outras histórias folclóricas. Um determinado menino, muito credenciado, da várzea, chegou lá para fazer testes e o "Seu" Abílio lhe perguntou: - "Em que posição você joga?" Ele respondeu: - "Jogo nas dez, menos no golo." O Abílio atirou as camisetas no chão e disse: - "Quem brinca nas dez não joga nenhuma. Pode ir embora." Ele realmente o mandou embora. Não se tem notícia desse jogador, mas certamente ele não jogou futebol em nenhum outro lugar.

O Amauri, irmão do Sílvio e do Cléo - corrija-me, Abílio -, em determinado treino em que o Abílio fazia um trabalho de chutes em golos, tinha chutado quinze vezes na goleira e tinha colocado quatorze fora da goleira. O Abílio chamou o jogador e disse:  - "Alemão, fica encostado no alambrado." Ele continuou o treino, porque sempre teve  disciplina, e o jogador seguiu e ficou encostado no alambrado. Em determinado momento, o jogador disse: - "Abílio, e eu aqui? Vou ficar encostado no alambrado?" O Abílio respondeu: - "Fica encostado aí, esperando o caminhão do lixo chegar para te levar.” (Risos.) É ou não é, Abílio? E o Amauri jogou algum tempo como profissional, mas a sua carreira de jogador terminou rapidamente.

Esse olho clínico que o Abílio tinha faz falta hoje no futebol profissional. Notamos essa deficiência em treinadores que não têm esse critério de avaliação, essa competência e essa credibilidade.

Esse é o Abílio de Oliveira Reis, de 77 anos, o Cleom do Morro, do nosso Pombal Futebol Clube, ou o Queixada, que, em 1947, foi treinar o time juvenil do Grêmio Esportivo Renner. Há amigos seus, Abílio, que vieram para te dar um abraço. Em 1959, a convite do ex-Presidente Frederico Arnaldo Balvê, foi para o Internacional. Admirado e querido por todos os funcionários do Inter, Abílio faz parte da história do clube mais popular do Estado. Em sua carreira, Abílio cometeu um grande erro: ele treinou o Grêmio, o Grêmio do Joãozinho, mas por pouco tempo, João, pois logo se arrependeu e voltou para a sua casa, para o Sport Club Internacional.

O mundo futebolístico e a Cidade de Porto Alegre te agradecem por tudo e te parabenizam por mais este título. Obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos para compor a Mesa o Exmo. Sr. Desembargador Osvaldo Stefanello, representando o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Registro as presenças do Ver. Mário Fraga, 1º Vice-Presidente da Câmara, do Ver. Edi Morelli, 2º Vice-Presidente, dos Senhores João Bosco Vaz, Nereu D'Ávila, João Severiano, Larri Pinto de Farias, Sadi Schwerdt, ex-Vereador e hoje Diretor Geral desta Casa. Registro ainda as presenças do Sr. Enídio Perondi, Presidente da Federação Gaúcha de Futebol, do Sr. Antonio Bessil, Presidente da Federação de Educação e Cultura, e do Sr. Enio Andrade.

Nós concedemos a palavra ao Ver. Dilamar Machado, que falará em nome da sua Bancada, o PDT.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É muito bom falar depois do Ver. Fernando Záchia como proponente, até porque ele deu em tintas muito claras a figura profissional de Abílio Reis - aliás, consagrado na imprensa como "Abílio dos Reis". Não é "dos Reis"; é Abílio Reis. Mas vejam que a imprensa do Rio Grande, talvez instintivamente, já foi colocando o Abílio como Abílio dos Reis, porque o Abílio é o tipo da figura que, mesmo não sendo nosso conhecido, nosso amigo de convivência diária, pessoal, a gente tem vontade de chamar de Tio Abílio. Ele é uma figura humana que ultrapassa certos limites.

Eu tenho uma certa desconfiança, quando eu lembro, ainda chegado há pouco do Interior, da vitória daquele time - do Renner, em 1945 -, que deve ter o dedo do Abílio. Não tem, Enio? Aquela formação da equipe: Pedrinho, Breno, Joeci, Juarez, o Enio Andrade e outros tantos craques, o Valdir, o grande goleiro que acabou na Seleção... Também ali já começava a trajetória de uma pessoa que soube mostrar e mostra até hoje, ao longo de sua vida, não só competência, como visão. Parece-me que o Abílio, ao longo dos anos, e são muitos anos de sua frutuosa vida, ele seguiu uma norma que eu adotei há muito tempo. Eu acho que a pessoa só é feliz, Abílio, quando faz o que gosta. Eu tenho certeza que o que o Abílio gosta de fazer é futebol. Imaginem o Abílio fora do futebol, aposentado, em casa, de pijamas, incomodando a família! O Abílio é intrinsecamente um homem de futebol. E como o futebol é uma paixão neste País, vejam a glória deste homem, lembrado aqui pelo Ver. Fernando Záchia. Ele criou a figura do "Rei de Roma", o nosso Paulo Roberto Falcão. Que momento de glória para a vida profissional do Abílio! Não só ter dado ao Internacional um craque, na verdadeira acepção da palavra, um dos mais excepcionais jogadores deste País, quase que um perfeito jogador de futebol, e vê-lo, depois, como a principal estrela naquele momento do mais poderoso conglomerado do futebol mundial, que era o futebol italiano! O Falcão entrou na vida do futebol de tal forma que conseguiu tirar quase do anonimato o Roma, que era um time que há muitos anos não figurava entre os favoritos, não ganhava campeonato italiano.

No ano passado, imagino a alegria que deve ter invadido a alma do Abílio! Porque todos nós ficamos felizes com o tetracampeonato do Brasil, mas o Abílio, ao ver aquela partida final, deve ter tido o coração mais acelerado quando viu o gol do Dunga e as defesas do Taffarel, figuras que passaram por suas mãos ainda crianças. É uma figura lendária do futebol.

O Abílio está recebendo hoje aquilo que poucas pessoas recebem nesta Cidade, não só por força do Regimento Interno, mas até por força da própria decisão dos Vereadores, que precisam ter cuidado ao outorgar a alguém o Título de Cidadão Emérito. Esse título é outorgado a pessoas que nascem em Porto Alegre. Nós temos dois tipos de honrarias a conceder: Título Honorífico de Cidadão Porto-Alegrense, que é outorgado àquele que não nasceu em Porto Alegre, por motivo de relevante valor social, sua profissão, sua arte, seu ofício; e o Título de Cidadão Emérito aos nascidos em Porto Alegre. Por essa razão, ao Abílio é concedido esse título, e para nós, da Bancada do PDT, por delegação do Líder Nereu D'Ávila, é muito importante trazermos esse abraço ao Abílio.

O Abílio é um construtor de craques e hoje é uma figura influente. Está sentado ao lado de um dos dirigentes da Administração do Município, companheiro Hélio Corbellini. O Abílio precisa estender a mão ao nosso Internacional, que sempre teve a outra mão segura na mão do Abílio. O Internacional e o Grêmio, João Severiano, estão hoje acima das humanas contingências; representam, literalmente, as duas metades do Rio Grande. Felizmente, aqui no Rio Grande do Sul, a nossa rivalidade com o Grêmio é sadia. É uma rivalidade que fica mais no terreno da "flauta", da gozação. Não entra naqueles caminhos brutais da violência, assassinatos, lesões, confrontos entre torcidas.

Nós, aqui na Câmara, independente da condição de gremistas ou colorados, temos procurado preservar os interesses do Grêmio e do Internacional, pois são interesses de todo um Estado. Não que o Internacional e o Grêmio estejam fora do alcance da lei, mas os delitos de Grêmio e Internacional são sempre leves, são sempre afiançáveis.

Quero aproveitar - o que já vínhamos fazendo há alguns dias - e solicitar ao companheiro Hélio Corbellini, até como companheiro de Conselho do Internacional, como colorado, que nos ajude a manter não só a posse como o muro protetor daquela área em que o Abílio dos Reis, junto com tantos outros companheiros lá na sede do nosso Gigante da Beira-Rio, vai continuar, ao longo dos próximos anos, talvez por seus sucessores, como disse o Ver. Záchia, a tirar da rua os meninos de rua, transformá-los em gente e, sempre que possível, em novos craques de futebol para o Sport Club Internacional.

Vejo que falar do Abílio é tão bom, é tão fácil, que em poucas palavras eu disse aquilo que gostaria de dizer. Só resta lhe dar agora um abraço de colorado, dizendo que Porto Alegre, a partir de hoje, como cidade, fica mais rica do ponto de vista humano. Tem mais um cidadão mais do que emérito: o Cidadão Abílio dos Reis. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Sr. Antonio Carlos Keunecke, que representa, neste ato, o Dep. Paulo Odone.

O Ver. Jocelin Azambuja está com a palavra pela Bancada  do PTB.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Hoje é um daqueles dias muito especiais para todos nós. Foi de extrema felicidade a atitude do nobre Líder do PMDB, Ver. Fernando Záchia, quando propôs que esta Casa outorgasse o Título de Cidadão Emérito a Abílio dos Reis. Foi o motivo por que esta Casa, por unanimidade, se sentiu na alegria e no dever de conceder essa honraria máxima do nosso Legislativo a Abílio dos Reis.

Nunca me imaginei estar nesta tribuna homenageando Abílio dos Reis, que eu, como morador do Menino Deus e do Nonoai... O Valdir era nosso grande craque do bairro e, por azar nosso, não chegou lá no Inter. Erechim deu grandes craques para Porto Alegre, e o Abílio seguidamente estava lá para garimpar jogadores, tarefa que ele exercia com primazia para o Internacional. Depois, acompanhávamos o trabalho nos Eucaliptos e, mais recentemente, no Beira-Rio, que nos foi apresentado pelo Presidente do CPM do Inácio Montanha, Albino Gering.

O Abílio é uma figura que todos nós amamos. Mesmo aqueles que nunca tiveram a oportunidade de conviver com ele têm uma relação de amor e carinho pelo Abílio - como temos a ousadia de chamá-lo, por esse laço estreito de quem ama o futebol - por saber que existia um homem que estava sempre percorrendo todos os campos de futebol para descobrir um craque. O quanto isso foi, é e será importante para a nossa juventude! Este País vive com graves problemas estruturais, sociais, com uma juventude quase perdida na destruição social, e o esporte é o elo salvador para essa juventude envolvida em drogas, em todos os tipos de perdições. Nós, como sociedade, temos sido extremamente falhos em resolver esses problemas. O esporte é fundamental para que possamos fazer esse resgate que a juventude quer.

A homenagem a Abílio Reis é lembrar a importância do que significa incentivar a juventude à prática do esporte. O nosso querido clube não se preocupa só com o futebol. Incentiva todos os esportes e tem como fundamento principal mobilizar a massa colorada em torno dos esportes, tendo como carro-chefe o futebol. O Abílio Reis teve esse poder mágico de fazer com que a juventude tivesse o desejo de praticar futebol para um dia ser olhado pelo Abílio e estar lá nas escolinhas do Internacional. Essa é a grande riqueza do Internacional e, se há um símbolo forte do Sport Club Internacional, é o de Abílio Reis, porque ele esteve presente na essência do esporte. Com essa imagem positiva, o Abílio fez um trabalho para o nosso clube e para o esporte do Rio Grande do Sul e, em todos os locais onde esteve, sempre preocupado com essa característica fundamental: estimular a juventude à prática do esporte.

Precisamos muito disto - mais do que nunca -, que os clubes ampliem a sua ação em prol da juventude, que os Eucaliptos possam continuar sendo uma grande praça de esportes, porque precisamos tê-las neste País. Não podemos abrir mão de cada espaço. Claro que é bom investir, construir, mas como é bom ter espaços em que a juventude não fique nas esquinas "puxando fumo" ou preocupada em cheirar cola ou outra droga. Na semana passada, eu estava com o Ministro da Educação, em Brasília, e pedia para ele um espaço para a Escola Presidente Roosevelt, ali, no Menino Deus - um ginásio de esportes -, porque as nossas escolas não têm locais para a prática de esportes. Vejam que deficiência que nós temos de estímulo à formação da juventude. Então, nós damos para a juventude a televisão, nós damos para a juventude a droga, mas não damos aquilo que realmente ela precisa. Então, o que o Internacional, o Sport Club Internacional fez ao longo dos anos, o que o seu Presidente tem feito - o estímulo às categorias inferiores - é muito importante. E esse simbolismo que Abílio dos Reis representa é que realmente orgulha todos nós, orgulha o Rio Grande de todas as correntes e faz com que Porto Alegre se torne mais grandiosa e esta Câmara mais forte ainda em conceder um título de tamanha envergadura a Abílio dos Reis.

Saiba, Abílio, que este é motivo de maior alegria desta Casa e foi muito feliz o seu padrinho, o nosso nobre Ver. Fernando Záchia, em ter-lhe dado esta honraria. A Cidade está feliz e nós todos, Vereadores, estamos felizes, e temos certeza de que Porto Alegre vai ser mais alegre daqui para frente, tendo este ilustre Cidadão Emérito. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O próximo Vereador a fazer uso da palavra, pela Bancada do PFL, é o Ver. Reginaldo Pujol.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Ver. Mário Fraga, a quem eu não sei se saúdo, neste momento, como Vice-Presidente da Casa ou como ex-atleta do nosso homenageado, que hoje pela manhã, ainda, se preparava, fogosamente, para participar da alegria de estar vendo esta homenagem que a Cidade de Porto Alegre presta para este homem que fez a alegria e, às vezes, até a tristeza daqueles casos peculiares que o homenageante-mor, Ver. Fernando Záchia, nos citou, de quantos jovens, que hoje já não são tão jovens, como nós... Eu, aliás, quero quebrar a formalidade da saudação para dizer o seguinte: eu acredito que, com relação a Abílio dos Reis, nós temos, por longas gerações, três tipos de pessoas. Aqueles que jogaram em algum time, algum clube, alguma equipe sob o comando de Abílio dos Reis; aqueles outros tantos, entre os quais eu me incluo, que não conseguiram jogar em nenhuma equipe, em nenhum clube sob o comando deste homem; e aqueles homens que são "doentes do pé", os que não gostam de futebol. Os da minha geração, ou nós almejávamos ser jogadores de um time conduzido por Abílio dos Reis, ou nós éramos jogadores desse mesmo time.

Por isso, fico muito satisfeito, meu caro Abílio de Oliveira Reis, em vir à tribuna hoje para, em nome do Partido da Frente Liberal, saudá-lo no instante em que a Câmara Municipal de Porto Alegre, atendendo a Requerimento do Ver. Fernando Záchia, lhe confere o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Evidente que, neste dia e nesta hora, várias pessoas haveriam de acorrer aqui. Eu, inclusive, pretendi que esta homenagem fosse sintetizada num único pronunciamento, o pronunciamento do seu ex-atleta, Ver. Fernando Záchia. Ele, com toda a razão, poderia ter sido o nosso porta-voz hoje, mas o próprio Ver. Záchia ponderou o que nos pareceu óbvio: tamanho foi o trabalho que Abílio dos Reis fez em Porto Alegre, que seria justo que, nesta tarde, se multiplicassem as posições.

Enquanto ouvia o Ver. Jocelin Azambuja, eu lembrava que, há dois anos, quando se prestou uma homenagem ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense aqui, nesta Casa, o Ver. Jair Soares, então titular, licenciou-se naquele dia para que eu, como Conselheiro do Grêmio, como gremista, pudesse usar a tribuna. Naquela ocasião, o Ver. Jocelin Azambuja fez um belo pronunciamento, ao final do qual confessou a sua condição de colorado. Então, para que hoje não só colorados falem aqui, nesta tribuna, justifica-se que um gremista venha aqui e saúde o Abílio dos Reis, saúde, também, o Dep. Valdir Fraga, nosso ex-colega da Casa, nosso amigo particular, que comparece hoje como representante da Assembléia Legislativa do Estado, saúde o Dr. Hélio Corbellini, Diretor do Departamento Municipal de Habitação, que representa, aqui, o Sr. Prefeito Municipal e o lado vermelho da família Corbellini, posto que o Vânius e o Enio estariam representando o lado azul, saúde o Presidente do Sport Club Internacional, Dr. Pedro Paulo Záchia, saúde meu particular amigo e representante do Procurador Geral do Estado, Dr. Alexandre Mussoi Moreira, saúde o ilustre representante da ARI, Dr. Firmino Cardoso, saúde o Desembargador Osvaldo Stefanello, que nos dá a honra de tê-lo nesta Casa representando a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado. E mais outras tantas pessoas que aqui comparecem, que deixo de nominá-las para não ser fatigoso, mas que resumiria na figura do Presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Sr. Enídio Perondi, e na figura do Dr. Antonio Carlos Keunecke, representando o Dep. Paulo Odone e o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

Os oradores que me antecederam, com muita propriedade, traçaram o largo perfil e o grande significado que tem para a vida do esporte do Rio Grande do Sul, especialmente do futebol, a atuação que Abílio Reis vem desenvolvendo por longos anos, inicialmente no Renner, há algum tempo no Grêmio e, mais presentemente, por longos anos, no Sport Club Internacional.

Disse que todos nós ou fomos atletas do Abílio ou gostaríamos de ter sido ou não gostamos de futebol. Quando cheguei, encontrava, por exemplo, o meu particular amigo, o Eng. Franceschini, que, ante a surpresa da minha presença, lembrava que ele era o ponta-direita do Abílio no Renner, Campeão Juvenil de 1956, junto com o Higino, Osquinha, Cláudio e tantos outros. Em tudo isso, o que podemos acrescentar nesta homenagem? Uma reflexão me parece que se impõe. É que todos nós, que gostamos de futebol, que reconhecemos que na prática do esporte há um caminho salutar para a juventude, não podemos, numa oportunidade como esta, deixar de acentuar alguns aspectos que devem ser preocupação cotidiana dos dirigentes das nossas equipes maiores, dos nossos grandes clubes do Estado do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, que antes usava homens como Abílio Reis para buscar na sua periferia valores para compor as nossas equipes, hoje tem essa tarefa extremamente dificultada. O desenvolvimento da Cidade, a ocupação dos vazios urbanos, faz com que aquela proliferação dos campos de várzea, que tínhamos no passado, tenha desaparecido por inteiro. Então, acho que colocações como a que aqui foi feita pelo Ver. Dilamar Machado têm que ser amplamente sopesadas por quantos têm responsabilidade com a coisa pública nesta Cidade. Nós temos que preservar aqueles poucos lugares que ainda restam na Cidade de Porto Alegre, onde o jovem possa praticar o futebol, porque, em breve, para que homens como Abílio dos Reis possam cumprir o seu destino de garimpador de craques, eles terão que sair para fora dos limites da Cidade, de vez que, a cada ano que passa, um campo de futebol desaparece. E sou daqueles que, teimosamente, insiste em que o futebol gaúcho, malgrado as gloriosas exceções, tem que se alimentar de si mesmo, ainda que por vezes tenha que buscar valores fora do nosso Estado, até para que a Casa possa ter tido, um dia, o Larri Pinto de Faria como seu Vereador, e só o foi porque foi aqui trazido pelo Sport Club Internacional; para que a Casa possa ter, um dia, o Paulo Oliveira, o Paulo Lumumba como seu Vereador, e só foi porque um dia o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense foi buscá-lo lá, em Sergipe; e para que a Casa possa ter, como hoje, o privilégio da presença de Geraldo de Matos Filho, o Mazzaropi, como nosso companheiro de atividade parlamentar. Essas exceções que cito confirmam a regra. A seiva, o adubo, tem que ser o jovem que nós vamos garimpar aqui em casa, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na Região Metropolitana. Para isso tudo não basta ter um Abílio dos Reis, com todo o seu cabedal de experiência, com todo o seu tirocínio para a atividade, se nós não tivermos, junto à matéria-prima, o laboratório onde essa matéria-prima irá ser trabalhada.

Nesta reflexão que faço numa tentativa de homenagear a importância do trabalho de Abílio dos Reis, eu digo que nós, os responsáveis pela coisa pública da nossa Cidade, não podemos nos lembrar dessa situação apenas em momentos de homenagens justas, como esta que estamos a produzir. Temos que, objetivamente, cuidar dessa situação, atendendo, quem sabe, aos apelos do Dr. Dilamar Machado, bem colocados desta tribuna, eis que adequados, e a outros tantos daqueles clubes que ainda insistem em manter, aqui em Porto Alegre, aberta a possibilidade de prática de futebol e, por conseqüência, da atividade de homens do porte de Abílio dos Reis. São colocações que faço no mais absoluto improviso.

Todos nós aqui presentes - e esta Casa está lotada - e aqueles outros que aqui gostariam de estar sabem perfeitamente bem que tudo aquilo que o senhor fez revelando jogadores do porte daqueles que aqui foram citados, desde os tetracampeões como Taffarel, Branco, Dunga, Flávio Bicudo e outros tantos valores, que todo esse seu trabalho não pode ser interrompido; que nós, que gostamos do futebol, que entendemos que o futebol ainda é a paixão nacional, precisamos ver preservadas as condições necessárias para que se exerça essa sua atividade, atividade que muitos não reconhecem, mas que a Casa do Povo de Porto Alegre, dos Vereadores com assento nesta Casa, nesta legislatura, souberam reconhecer ao acolher por unanimidade o Projeto de Lei do Ver. Fernando Záchia, que, inspiradamente, entendeu e obteve o reconhecimento desta Cidade ao fazê-lo Cidadão Emérito de Porto Alegre, reconhecimento que hoje oficialmente será perpetuado e que terá, evidentemente, o aplauso de todos nós - colorados, gremistas, enfim, todos aqueles que amam o esporte, que vêem no futebol uma válvula adequada até mesmo para desajustes sociais na nossa juventude e, sobretudo, entendem que pessoas como o senhor, que realiza um trabalho sério, merece o reconhecimento público. E quando essa atividade é a paixão nacional, é a paixão do brasileiro, que se fale em alto e bom som: nossas homenagens ao Sr. Abílio dos Reis, do tricolor gremista, que não lhe dá um abraço, mas lhe dá a palavra de respeito como homenagem maior nesta hora. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Luiz Negrinho está com a palavra pela Bancada do PP.

 

O SR. LUIZ NEGRINHO: Sr. Presidente, eu vou procurar ser o mais breve possível porque não estou habituado a estas Sessões Solenes, tanto é que esta é a primeira vez que falo nesses três anos de mandato.

Quando recebi o material desta Sessão Solene, eu disse: "Nesta, eu vou falar, até porque vou causar algumas surpresas a alguns colegas Vereadores." Como o Ver. Reginaldo Pujol disse que não teve o privilégio de fazer parte de alguma equipe, quero dizer, com muito orgulho, que tive essa oportunidade que V. Exa. não teve, de fazer parte de uma equipe dirigida pelo nosso querido Abílio dos Reis.

Vou citar um episódio que, sem dúvida alguma, vai fazê-lo relembrar de mim. Havia uma equipe que era composta pelo Maurício Vovô, na lateral direita, pelo Paulo Roberto, que hoje está no Atlético Mineiro, na lateral esquerda, e pelo Ricardinho, Dunga e Otávio, no meio de campo. Esse jogo foi realizado por uma seleção da Grande Cruzeiro para o qual fui convidado para ser goleiro. Infelizmente, fui descoberto muito tarde pelo Abílio, pois eu estava com muita idade para continuar jogando futebol. Mesmo assim, permaneci por um período de seis meses jogando naquela equipe junto com o Ricardão, que era o goleiro, e o Grasso, que faleceu posteriormente. Como todos sabem, casei muito cedo e inclusive já tenho netos. Como precisava trabalhar, simplesmente não tive condições de me manter treinando e jogando naquela equipe. A minha família precisava mais de mim naquele momento, por isso preferi optar por lhe dar a guarida necessária. Mas tenho certeza absoluta de que hoje, com a pouca idade que tenho, poderia estar jogando, porque vejo que existem goleiros com 40, 42 anos, e eu estou na média dos trinta e alguns.

Porto Alegre, a partir de hoje, terá o seu grande talento. Digo isso com toda a tranqüilidade porque, no período em que fizemos aquela seleção na Grande Cruzeiro, fomos jogar contra o Júnior - parece que na época era Juvenil - e "fizemos olho de lince". O pessoal costuma perguntar de quanto foi o jogo e eu digo: "Foi de nove a um para eles." Mas demos um banho de bola no Juvenil do Internacional. O resultado do jogo foi de nove a um para eles. Infelizmente, tomamos nove golos, mas era para levarmos uns 25, 30 ou mais, porque eu estava em uma tarde feliz. Naquele período, fui convidado, no final do jogo, por um senhor chamado pelo apelido de "Capitão" - não sei se ele ainda permanece lá. Ele foi ao vestiário, convidando-me para participar de alguns jogos, e acabei treinando por seis meses.

Fiz questão de vir aqui hoje, quebrando o protocolo, porque nunca participei de uma Sessão Solene, mas uma pessoa querida como o Prof. Abílio - pelo menos é assim que as pessoas o chamavam... Não poderia, neste momento, até para os colegas que não sabiam, deixar de fazer esse registro, bem como pelo tratamento e forma com que o Prof. Abílio tratava aqueles meninos. E eu me considerava um menino naquela época, e isso já faz muito tempo. Por tudo isso ele chegou onde está neste momento, porque ele tem um carinho, tratando o atleta como trata seu filho. Ele cobra muito, é disciplinador. Posteriormente, fui jogar futebol profissional e realmente não tive outro treinador com a sua disciplina. Quando passei pelo Sport Club Internacional, sob a direção do Abílio, a sua característica número um foi a disciplina, mas aquela de um pai que adora o filho.

Mando aqui o meu abraço gremista, porque sou o segundo gremista. Sou gremista, mas tenho algumas coisas engraçadas comigo: sou sócio do Sport Club Internacional e campeão do carnaval de Porto Alegre: o vermelho e branco. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós concedemos a palavra ao Dep. Valdir Fraga, Presidente em exercício da Assembléia Legislativa.

 

O SR. VALDIR FRAGA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Neste ato, eu represento a Assembléia Legislativa, com muito orgulho, e vim para trazer o abraço dos colegas Deputados ao Abílio.

Nós não vamos encontrar um outro desportista igual ao Abílio, de jeito nenhum. Nós podemos construir quinhentos campinhos de futebol amador. E o Ver. Jocelin Azambuja disse que o Abílio não esteve no União Erechim, hoje Nonoai Tênis Clube. Ele esteve, sim, há 37 anos. Quando se jogava nas equipes amadoras, alguém dizia: - "Olha, o Abílio está aí." E a rapaziada já se assanhava e resolvia correr mais um pouquinho.

Eu me recordo que o Abílio esteve na casa do Vovô Velho, que era assim chamado, e o meu pai estava construindo um muro, e eu o auxiliava como um ajudante de pedreiro. O Abílio esteve lá naquele momento. Indicaram onde eu estava, juntamente com o meu pai, e me convidou para treinar no Juvenil do Internacional. Na época, se usava "sete vidas", nem era alpargata. Então, lá fui eu para o Internacional - tinha 16 para 17 anos. O Abílio, além de treinador, era o preparador físico. Na época, os profissionais eram o Queen, o Alfeu, o Ivo Diogo, Larri e tantos outros. Eu me recordo que nós treinávamos no Estádio do Nacional. Saíamos a pé e íamos até o campo do Nacional, onde está hoje o Mercado Real. Participei de algumas jornadas como titular; na reserva era o Flávio, que ficava batendo bola na tela, enquanto nós jogávamos. Na reserva do time titular estava o Nilo, o lateral esquerdo, que hoje está trabalhando lá no Internacional, que dava pontapé adoidado nos treinos. Eu era muito medroso.

Então, eu tive o prazer de passar pelas mãos do Abílio. Por isso estou aqui, Abílio, não como Presidente em exercício da Assembléia Legislativa, mas nesta homenagem eu fiz questão de comparecer para dar o meu testemunho e lamentar que nós não tenhamos mais alguns Abílios para descobrir tantos craques como foram descobertos. Lembro do Motini, lateral, na época; lembro do nosso Tesoureiro, o Duran; lembro que o primeiro salário foi de dois cruzeiros e cinqüenta centavos. E, saindo do Edifício Relógio, procurávamos, sempre que não estavam lá nem o Larri, nem o Eraldo, ponteiro esquerdo, que veio de Rio Grande, porque eles levavam todo o caixa. A gurizada dizia: - "Vamos pegar antes, porque não demora chegar o Eraldo, o Alfeu, o Larri e levam todo o dinheiro." Saí dali, comprei um sapato bico quadrado, nas Lojas Clark, na Rua da Praia.

Quando se falou em alguns craques, citados pelo Záchia, que eu cumprimento pela iniciativa, nós tivemos o Claúdio Dante, que era quarto zagueiro; jogou no Corínthians. Tivemos o Ercílio. Se os amigos recordam, muitos torcedores do Internacional iam bem antes para olharem as preliminares, quando jogavam Paulo Véchio, Paulo Berg, Mário, pela ponta esquerda, que depois foi para o Caxias, e tantos outros. Tinha até o falecido Cepe, que, na época, convivemos com aquele drama todo; o próprio Schneider; o Guaporá; Beno e tantos outros; o Jaime, ponteiro direito.

Estou aqui, Abílio, para te trazer um abraço de amigo. E como é bom sonhar com aqueles tempos! Fizeste felizes os meninos, mesmo que não continuassem no esporte. Mas há centenas por todo o Estado e até pelo País. Meus cumprimentos. Espero que tenhas muita força para continuar buscando alguns craques, como tu buscaste. És um orgulho para nós todos. O Município e o Estado te devem muito. Não há como pagar o trabalho que desenvolveste em prol do esporte no nosso Estado. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Chega o momento de entregar o título. Vamos convidar, merecidamente, o Ver. Fernando Záchia para fazer a entrega.

 

(É feita a entrega do Título.)

 

Com a palavra, o Sr. Abílio dos Reis.

 

O SR. ABÍLIO DE OLIVEIRA REIS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais presentes.) Em primeiro lugar, quero agradecer ao Sr. Fernando Záchia e tantas pessoas que trabalharam comigo nessa época toda em que estive no Internacional, porque não sou só eu; além de mim, ainda havia muita gente que comigo trabalhava. Nós procurávamos, cada vez mais, melhorar aquelas equipes que nós dirigíamos. Aqui está presente o nosso "capitão", o Antônio Dutra; o nosso massagista Edi; uma grande pessoa que tanto trabalhou comigo, que se chamava João Paulo, e outras grandes pessoas que a gente não se recorda facilmente dos nomes, mas temos dentro do clube muitas pessoas.

Não fui só eu, e sim outras pessoas que muito me ajudaram para chegarmos a ser, praticamente, quase sempre, campeões dessa categoria. Não quero dizer que só eu que fiz coisas, não. Essas pessoas que me ajudaram também fizeram muito para que nós chegássemos aonde chegamos. Eu viajava por toda parte desse Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo. Onde houvesse notícia de que existia um bom jogador nesses Estados, eu daria um jeito de ir até lá, porque era o clube que precisava, a equipe que eu dirigia é que precisava. Então, eu fazia todo o possível para trazer aqueles bons jogadores, como naquela época em que trouxemos um moço que veio de Erechim - o Paulo César Carpeggiani - que morava um pouco afastado daquela Cidade. Nós tivemos que trazer o jogador em vista da grande qualidade que ele demostrou. Na primeira vez em que ele entrou na equipe para treinar, o "Seu" Osvaldo, quando o viu, ficou até interessado em levá-lo para a equipe profissional. Nós não podíamos perder esse jogador; estivesse onde estivesse, nós iríamos buscá-lo.

E não foi só esse. Sobre muitos e muitos jogadores temos histórias para contar. Antigamente - lá por 1947, quando fui para o Renner - montava-se uma equipe na maior facilidade. Eu não precisava de uma semana para montar uma equipe. Hoje, a coisa mudou muito. Hoje, nem viajando pelo Brasil inteiro, não se faz uma equipe em uma semana, porque não existem campos de futebol. Numa zona na qual eu morava, havia cinco ou seis campos de futebol, um ao lado do outro. Hoje, não há mais campos. Por que os clubes, hoje, têm a sua escolinha? Porque dão condições para jogadores de pouca idade. É para conseguirem formar novas equipes, com novos grandes jogadores. Não é fácil, mas é o trabalho que tem que se fazer. Temos que lutar para que os clubes aproveitem todas as equipes criadas dentro das equipes de base. É isso que se tem que fazer.

Agradeço a todos os presentes, ao Capitão Dutra, ao Dr. Hilton Melecchi, meu amigo de grandes tempos, que trabalhou comigo dois, três anos, ao Schneider, que jogou comigo, ao Carlos Duran, que me acompanhou há muitos anos, a todas as pessoas que ajudam dentro do clube para a gente manter sempre uma grande equipe, ao Dr. Fernando Záchia, ao Sr. Mário Fraga, ao Sr. Valdir Fraga. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a presença de todos. Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h.)

 

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